domingo, 21 de maio de 2017

O que é a Logoterapia?

Viktor E. Frankl - Criador da Logoterapia


Por Hallyson Alves Bezerra


Considerada a terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia foi criada pelo psiquiatra vienense Viktor Emil Frankl, ainda nas primeiras décadas do século XX. Sendo judeu, assim como muitos outros homens e mulheres durante a Segunda Guerra, Frankl foi vítima do Nazismo, tendo sido preso em quatro campos de concentração. Ele testemunhou e vivenciou as atrocidades cometidas pelos apoiadores de Adolf Hitler. Essa experiência nos campos serviu para fundamentar a sua logoteoria.

A aproximação de Viktor Frankl com a filosofia de expoentes do existencialismo, como os filósofos da fenomenologia Edmund Husserl, Martin Heidegger e Max Scheler, contribuiu para a postulação da Logoterapia, que é a psicoterapia a partir do sentido, buscando na consciência humana, em sua dimensão noética, a chave para a busca do sentido da vida. Para Frankl o sentido não é único, mas existem “sentidos” para todas as situações que o homem vivencia. Há sentido até mesmo no sofrimento, entretanto, existe o sentido maior, que ele encontra no momento em que se abre para o mundo, onde lhe é revelada a missão e o "para quê" dos acontecimentos que lhe sobrevém.

Além da dimensão noética ou espiritual, o homem em Frankl é composto de outras duas dimensões: a biológica e a psicológica, mas é na dimensão noética que se revela o verdadeiro homem, aquele em que a consciência se manifesta e a única, dentre as três dimensões, que não adoece. É através da consciência que o homem se vê com liberdade – e responsabilidade – onde são produzidos os valores (criativos, vivenciais e atitudinais) e onde está a “voz” da sua consciência, intuitivamente. Portanto, os três pilares da Logoterapia são a liberdade de vontade, a vontade de sentido, e o sentido da vida.

A Logoterapia, em sua abordagem psicoterápica, visa compreender o homem diante dos seus conflitos existenciais, conduzindo-o a vivência de ouvir a sua consciência, no que tange as possibilidades existentes, mas que este não “enxerga”, para que o mesmo possa encontrar uma dentre elas que lhe pareça ter maior sentido. Há situações em que esse homem se depara com a culpa, sofrimento e morte (chamada de Tríade Trágica, na Logoterapia), podendo, ainda sim, se encontrar o sentido.

Frankl (2011) fala sobre três categorias de valores, que são abstratos de sentido. Uma composição de uma música, a contemplação da natureza são alguns exemplos de produção de valores. Entretanto, quando não se é possível encontrar o sentido através dos valores criativos e vivenciais, ainda resta ao homem posicionar-se diante de uma situação que não se pode mudar, como a morte. A atitude que esse homem toma (valor atitudinal), para Frankl é possível se chegar ao sentido.

No que se refere às técnicas utilizadas pela Logoterapia, no setting psicoterapêutico, existem um bom número, dentre elas: Diálogo Socrático, Intenção Paradoxal, Derreflexão, Apelação, Denominador Comum.

TÉCNICAS DA LOGOTERAPIA

Diálogo Socrático

O Diálogo Socrático mobiliza a vontade de sentido. Durante o diálogo existencial-analítico se identificam novas possibilidades até a descoberta do sentido, metas, projetos e tarefas significativas aplicáveis à experiência concreta, e tudo isso com o apoio da maiêutica, ou seja, desde um questionamento profundo do significado no mundo do paciente.

Intenção Paradoxal

A técnica da Intenção Paradoxal baseia-se no fato de que o medo produz aquilo que temos medo, ou seja, a ansiedade antecipatória. Na intensão paradoxal o psicoterapeuta induz o paciente que sofre de fobia a intencionar precisamente aquilo que teme, mesmo que seja somente por breves instantes. Com a inversão da atitude do paciente o seu temor é substituído pelo “desejo paradoxal”, diminuindo-se a ansiedade gerada em torno da situação. Dessa maneira o indivíduo está capacitado a colocar-se numa posição distanciada de sua própria neurose.

Derreflexão

A Derreflexão consiste no ato de distrair a atenção da pessoa, no sentido de desloca-lo do foco do seu sintoma, para algo mais importante no contexto de sua vida futura. A técnica é muito utilizada em casos em que há dificuldades para vivenciar o prazer na esfera da sexualidade. A derreflexão atua rompendo o círculo retroalimentado formado pela hiperintenção (a busca exagerada) de conseguir o prazer que desencadeia uma hiperreflexão (a atenção exagerada) no mesmo sentido, fechando-se um ciclo obsessivo que anula toda e qualquer espontaneidade impedindo o evento tão desejado.

Apelação

Na Logoterapia, a Apelação está relacionada a questão do surgimento dos elementos positivos dentro de situações negativas. Essa técnica visa enaltecer características positivas na fala do paciente, que demonstrem seus pontos fortes, apesar da sua situação de sofrimento que o fez chegar até ali. Reavivando sua capacidade de sentir, sua humanidade escondida, mas passível de resgate.

Denominador Comum

É uma técnica bastante comum na Logoterapia. Consiste em fazer com que o paciente examine cada situação, oportunidade ou possibilidade e coloca-as em uma espécie de “balança”, onde o mesmo deverá realizar uma reflexão sobre as possíveis perdas e ganhos, sobre cada decisão que porventura tomará. Assim, intenciona-se que o paciente realize a melhor opção de escolha, levando em consideração as consequências delas (a menos nociva a si e aos outros que estão envolvidos na situação). O paciente deve estar ciente que a escolha será sempre sua, sendo ele, portanto, responsável pela escolha.

Referências

FABRY, Joseph B. A Busca do Significado. São Paulo, ECE, 1984.

FIZZOTTI, Eugenio. Conquista da Liberdade Proposta da logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo:Paulinas, 1996.

FRANKL, Viktor E. A Vontade de Sentido: fundamentos e aplicação da logoterapia. São Paulo: Paulus, 2011.

FRANKL, Viktor E. Logoterapia e Análise Existencial. Texto de Cinco Décadas. São Paulo, Editoria Psy II, 1995

FRANKL, Viktor E. A Psicolterapia na Prática. Campinas, SP: Papirus Editora, 1991.

FRANKL, Viktor E. Um sentido para a vida. Psicoterapia e Humanismo. São Paulo: Ideias & Letras, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário